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celebração necrófaga

condenado por um passado que não me pertence, continuo a deteriorar-me. tento alcançar o perdão que nunca me foi destinado até que me convenço de que talvez o tenha atingido. fingido. o que separa o meu corpo danificado e vil dos portões da morte não é mais que uma mentira que me foi concedida por mim próprio. um outro eu. o que escolhe iludir-se. tenho a dizer que raras vezes fui feliz. se se pode chamar de felicidade à ignorância... tal como todas as marionetas de Deus cresci para entreter. leia-se sofrer. com o destino de morrer. nada de novo. não sei se me consola mais achar que carrego o peso de um morto por mero acaso ou porque me foi atribuído um papel especial qualquer neste circo. estou cansado e quero ir-me embora. não pertenço aqui. à saída de casa no outro dia encontrei um amigo de infância. não falou para mim. éramos amigos desde os cinco anos de idade e nunca quebrámos contacto. pensei "será que não me viu?" que estupidez. como se eu não tivesse passado precisam

subterfúgio ou o homem de vidro

a sensação estranha que me perturba hoje o corpo incomoda e distrai. não consigo ver com clareza e fico assustado, não percebo o que me aflige e me mantém acordado. persisto. a noite já vai longa e eu forço-me a continuar. quero abrir a janela e saltar mas não encontro sequer a força necessária para o fazer. no jardim vejo pirilampos que brilham apesar de toda a escuridão. não me encontro são. desejava sobretudo poder existir sem dor nem queimaduras na pele. que fraco que sou.. não sei se hei de continuar a escrever ou simplesmente esquecer e beber e sofrer até morrer. não.. quem morre são os cobardes. a cobardia nunca foi minha amiga, nunca foi uma opção. fugir da violência e dos gritos era somente uma possibilidade no reino do fantástico em que me refugiava por obrigação. não queria ser visto como frágil ou hábil ou sórdido.. hábil com os mecanismos de refúgio, hábil com os meios de fuga. hábil a obedecer. hábil a perder. indigno de viver. temia há bastante tempo que isto me pudesse

duplamente infeliz

por vezes deparo-me comigo próprio e de repente as cordas da inibição desapertam-se, reparo naquilo que sou e logo sinto vergonha daquilo que nunca fui capaz de ser. é tão barulhento este sentimento de ódio e autodepreciação... chega a ser tão barulhento que se torna difícil de ouvir... e por isso deixo-me estar... mantenho-me igual... com vergonha, mas surdo. às vezes dou por mim a divagar nos corredores de espelhos da minha mente e logo reflito no dano que causo... à minha frente está uma imagem sórdida, suja, má e hedionda... recuso-me a acreditar que sou eu. à surdez junta-se a cegueira e logo me perco no meio de tanta visão. começo a gritar e a única coisa que sinto é medo... infelizmente inerente a toda a gente contente e também àquela que mente. não sei se estarei feliz ou só miseravelmente sozinho. talvez sejam a mesma coisa. são estes pequenos momentos de tortura que me mantêm vivo e me fazem desesperar. mergulhei num ambiente de violência e agora tudo o que quero

a inutilidade do útil

encontro-me mais uma vez especado a olhar para o vazio enquanto o meu pensamento se revolve à volta do nada que fui construindo. é obsoleta e desinteressante, a vida.. pelo menos é-o para aqueles cujas almas perecem e desvanecem à medida que o mundo se destrói. parece que cada vez mais há algo para nos espezinhar e pisotear até que o sangue dos nossos corpos desista de manter o coração vivo. há sempre um momento em que nos perguntamos "será que não há nada que eu possa fazer?" mas é claro que há: esperar até morrer. às vezes apercebo-me de que sou um dos poucos desgraçados que tem de viver a vida sabendo que não a está a viver de todo. questiono-me sobre o porquê de tal sina até que chego sempre à conclusão que fazer perguntas é ainda mais inútil do que pensar que seria possível algum dia obter respostas. olho em redor e vejo pessoas felizes e ignorantes. ignorantes, mas contentes. creio que sempre é melhor do que ser lúcido mas inexistente. é nos momentos em qu

desperately desperate

and they said despair was just an imaginary enemy in the depths of our minds, a foul energy so deep in the human nature that we were obliged to ignore it and toss it aside, but they were wrong. i am the despair and the despair is me, i can't live without this constant obstacle that resides in my body and soul, that feeds off of hope and consumes all that it has achieved. today i saw despair. it said hello to me. i, like always, got scared and shouted as the people in the streets stared at me like i was some kind of maniac. you might be asking yourself why i even scream being that i know that it resides inside of me and that it is me and i am it. i guess one is never prepared for what one truly is. tomorrow i might see despair again. maybe i won't. who knows? what i do know is that i'll live with the constant fear that it may appear at anytime, in anyplace. i will live knowing that this is an inevitable truth and still i'll never be ready for the minute it

a febre dos condenados

e os doentes navegam e rumam e perseguem incessantemente, perdem-se e choram e tentam eternamente. a doença que os aflige é um mistério até para ela mesma, mas que ela existe e persiste, disso eu tenho a certeza. umas portas abrem-se e outras fecham-se, umas indicam certeza e as outras desesperança. mas o que é certo é que nesta andança não há descanso, não há esperança, não há razão, não há balança, afinal o que é que é verdade neste mundo de desilusão e mudança? um dia alguém me perguntou o que era ser doente. com um sorriso respondi, fingindo estar contente. "estar doente é a situação premente daquela gente que sente que nunca está contente, estar doente é saber que não se sabe mas ansiar-se pela verdade. estar doente é, acima de tudo, ser doente de espírito e alma, incuráveis e insaciáveis ferramentas inúteis que de tão fúteis se tornam pesadas e incomodativas. e por isso não, meu querido joão, não estás doente só porque te sentes menos bem. se estivesses do

the sad story of god and his experiments

the minute the world began to be created god got tired and decided to leave it all behind as the debris entered a manic state. a once well thought idea of a perfect place now seemed nothing more than erratic behavior of the one that had the time to manufacture such poisonous and evil way of conduct. the universe was shattered and it hadn't even begun. darkness took over when light was very scarce. hope was already lost before humans even existed. and hearts were never broken since love never manifested. in his immaculate and dellusional mind no wrong was ever committed, "life itself can wait a few more days as i put myself together and think of yet another way of destroying what i so beautifully started", god said. no wonder he got tired as soon as he started his "master plan", the vile son of a bitch just wanted us to hurt like we did then. funny how the first emotion i saw in this apocalyptic simulation was anger, who would've thought that