contentamentos descontentes

eras tu. eras tu aquele que sempre aparecera nos meus sonhos.
eras tu. eras tu aquele que me provocava pensamentos risonhos.

tal como as partículas de areia de uma praia, áspera e imensa,
sucumbem ao vento no seio da costa densa,
também a nossa paixão flutua ao sabor dessa mesma força,
oxalá a paixão ganhe, oxalá o amor vença.

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não venceu. temeu até que perdeu, sofreu até que cedeu.

amor. amor era o que sentia,
paixão era o que havia.
o amor acabou por morrer,
o que restava dele acabou por arder.

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hoje vivo internado.
vivo internado no labirinto da memória.
e a minha consciência? - perguntam as vozes - a minha consciência é meramente ilusória.

tenho, no entanto, consciência da demência,
foco da inconsistência do meu coração sem essência.

hoje vivo internado.
vivo internado na nostalgia do passado.
e o presente? - perguntam as vozes - do presente já estou eu cansado.

tenho, no entanto, presente a alma dormente e ardente,
ausente do que sinto, ausente do que sente.

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amor. amor era o que sentia,
paixão era o que havia.
o amor acabou por morrer,
o que restava dele acabou por arder.

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hoje vivo sufocado.
vivo sufocado pela transcendência predatória.
e porque não te libertas? - perguntam as vozes - não me liberto, pois a dor é decisória.

tenho, no entanto, uma liberdade constante.
constante e contestante desta prisão desconcertante.

hoje vivo sufocado.
vivo sufocado pelos espíritos pecadores.
e porque não te libertas? - perguntam as vozes - não me liberto, pois eles são deveras ameaçadores.

tenho, no entanto, uma voz libertadora.
do Olimpo gritam alto: "verdadeira máquina purificadora".

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morri internamente,
mas de tanto amor, acabei por morrer contente.

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