a inutilidade do útil

encontro-me mais uma vez especado a olhar para o vazio
enquanto o meu pensamento se revolve à volta do nada que fui construindo.

é obsoleta e desinteressante, a vida..
pelo menos é-o para aqueles cujas almas perecem e desvanecem à medida que o mundo se destrói.
parece que cada vez mais há algo para nos espezinhar e pisotear até que o sangue dos nossos corpos desista de manter o coração vivo.
há sempre um momento em que nos perguntamos "será que não há nada que eu possa fazer?"
mas é claro que há: esperar até morrer.

às vezes apercebo-me de que sou um dos poucos desgraçados que tem de viver a vida sabendo que não a está a viver de todo.
questiono-me sobre o porquê de tal sina até que chego sempre à conclusão que fazer perguntas é ainda mais inútil do que pensar que seria possível algum dia obter respostas.
olho em redor e vejo pessoas felizes e ignorantes. ignorantes, mas contentes.
creio que sempre é melhor do que ser lúcido mas inexistente.

é nos momentos em que me encontro a olhar para o vazio que percebo que a ideia do nada é só uma defesa face ao medo do tudo,
daquele tudo que é imenso e apenas percetível quando me encontro no estado mais degradante a que consigo chegar,
aquele em que verdadeiramente penso que não tenho nada a perder porque nunca tive nada a ganhar.
nasci nu e frágil e foi assim que permaneci até ao dia em que vi aquilo que sempre quis mas que nunca pude ter.
foi nesse momento em que deixei de ser frágil e passei a estar completamente quebrado.

e é sempre neste momento de introspeção momentânea que vejo os últimos minutos em que a minha alma queima e morre..
aí vejo o nada que sinto, mas o tudo que se revela.
as mágoas e os ressentimentos,
as lágrimas e o sangue,
os gritos e os choros,
o desespero e a angústia,
a ânsia e a raiva.
e, por fim, a felicidade.. oculta pelo pensamento e pela busca da verdade

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