duplamente infeliz

por vezes deparo-me comigo próprio e de repente as cordas da inibição desapertam-se,
reparo naquilo que sou e logo sinto vergonha daquilo que nunca fui capaz de ser.
é tão barulhento este sentimento de ódio e autodepreciação... chega a ser tão barulhento que se torna difícil de ouvir...
e por isso deixo-me estar... mantenho-me igual... com vergonha, mas surdo.

às vezes dou por mim a divagar nos corredores de espelhos da minha mente e logo reflito no dano que causo...
à minha frente está uma imagem sórdida, suja, má e hedionda...
recuso-me a acreditar que sou eu. à surdez junta-se a cegueira e logo me perco no meio de tanta visão.
começo a gritar e a única coisa que sinto é medo... infelizmente inerente a toda a gente contente e também àquela que mente.
não sei se estarei feliz ou só miseravelmente sozinho. talvez sejam a mesma coisa.

são estes pequenos momentos de tortura que me mantêm vivo e me fazem desesperar.
mergulhei num ambiente de violência e agora tudo o que quero é que reparem em mim... que reparem que eu existo, já que eu não consigo...

às vezes deparo-me comigo próprio e de repente as cordas da inibição desapertam-se.
e então vejo que existo...
sento-me no chão que calcara e olho para mim. começo a chorar compulsivamente e de um momento para o outro calo-me.
não me consigo mexer. sinto-me estático e paralisado.
está tudo a acontecer de novo.
do outro lado, existir é a maldição. mas, aqui sentado, assistir é a punição

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